César Eduardo da Silva Pereira
Resenha do filme
“Uma Cidade sem Passado”
Existem duas versões para um mesmo acontecimento histórico. Uma
proveniente de documentos escritos e monumentos que são cuidadosamente
analisados através de métodos científicos. É a história oficial aceita pelo
Estado e imposta por ele, por uma classe dominante, ou pela igreja. A outra
constitui-se na memória coletiva que transmite informações de acontecimentos e
culturas através da oralidade. Esta transmissão é uma tentativa de manter uma
cultura viva ou um fato importante como lembrança à geração atual. É também uma
forma de os mortos terem sua última chance de falar. Porém, o Estado ou uma
classe dominante poderosa pode tentar suprimi-la ou apagar parte dela em
detrimento do que eles consideram como a versão histórica oficial. No filme, Uma
Cidade sem Passado de Michael Verhoeven, baseado em fatos reais, a estudante
Sonya Rosemberger ao participar de um concurso de redação, cujo tema era Minha
cidade durante o III Reich depara-se com essa dificuldade. Quando ela inicia as
pesquisas sobre o tema, não consegue ter acesso aos arquivos municipais
do período e encontra muita resistência por parte das pessoas que não querem emitir depoimentos
acerca do tema.
Chama atenção que a própria personagem principal inicia a narrativa. Isso dá a impressão de que ela mesma busca recuperar de sua memória o acontecimento mais importante de sua vida. As cenas do passado são em preto e branco, enquanto as de sua época atual são coloridas. O diretor pode ter escolhido esse aspecto de filmagem para situar o espectador em cada época que a filmagem transcorre, ou, simplesmente, para chamar a atenção do público.
Chama atenção que a própria personagem principal inicia a narrativa. Isso dá a impressão de que ela mesma busca recuperar de sua memória o acontecimento mais importante de sua vida. As cenas do passado são em preto e branco, enquanto as de sua época atual são coloridas. O diretor pode ter escolhido esse aspecto de filmagem para situar o espectador em cada época que a filmagem transcorre, ou, simplesmente, para chamar a atenção do público.
O filme passa-se na Alemanha de 1970. Ele inicia com a personagem
principal chamada Sonya narrando a história e mostrando os locais em que viveu.
É o período da guerra fria. O país está dividido em dois e um muro corta ao
meio a capital Berlim, separando o lado comunista do capitalista. Ela mora com
os pais na denominada Alemanha Ocidental, numa cidade chamada Pfilzing. Lá,
estuda numa escola tradicional, onde sua mãe leciona Religião e as normas de
comportamento eram extremamente conservadoras. Sua família mora no mosteiro A
garota interessa-se em participar de um concurso de redação após convite de uma
professora. Vence-o e decide participar pela segunda vez. A temática a qual ela
escolheu foi sobre sua cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, a
menina começou a sondar parentes e amigos sobre um padre que havia sido
fuzilado por ser contra as leis racistas. Eles recomendaram que falasse com um
de seus professores, mas em vão. O mesmo resultado a jovem estudante obteve ao
procurar por informações na biblioteca da escola. O curador do local
respondeu-lhe que ali só havia obras teológicas. Sonya tentou o Arquivo
Municipal, mas não conseguiu acesso. Sua avó passou a contar o que sabia sobre
sua vivência daquela época e a aconselhá-la a todo momento. Os depoimentos dela
indicavam a possibilidade de famílias da elite local, dos seus políticos atuais
e da igreja terem cometido atrocidades em favor do nazismo. Graças a isso, a
persistência e a curiosidade, a neta lançou-se para mais tentativas frustrantes
de entrevista.
A partir daí, sua busca tornava-se o trabalho acadêmico da sua vida. O tempo passa. Ela se casou com o seu ex-professor de física, tem filhos e na universidade continua a procurar por informações que provem o que está hipotetizando. Procurou por novos dados nos jornais daquele período que noticiavam padres denunciando judeus. Seu marido descobriu que o ex-professor de história dela apoiava o nazismo. A jovem agora acadêmica conseguiu mais oportunidades de entrevistas. As barreiras de acesso a documentos continuaram. O prefeito era um dos que mais dificultavam o trabalho. A família de Sônia começou a receber ameaças por telefone devido aos possíveis resultados dele que ameaçavam a manutenção da ideia de integridade de várias pessoas da cidade. Sônia processa a cidade para conseguir acesso aos documentos necessários à pesquisa, porém ela apenas consegue a liberação quando levou a imprensa televisiva ao local exigindo a liberação deles. Tempos depois, ela apresentou a conclusão da pesquisa na universidade da localidade. Houve gente da elite, membros atuais do governo local e religiosos envolvidos com crimes nazistas. Recebe um prêmio que se negou a aceitar, pois questionou a quem o dava sobre se tinha medo de que ela desenterrasse mais coisas obscuras. Estava desesperada naquele evento. Relembra de sua época de adolescente e busca, com o filho nos braços, um refúgio na memória: a árvore dos milagres, onde todos faziam pedidos e orações a Deus. Representava sua sabedoria.
A partir daí, sua busca tornava-se o trabalho acadêmico da sua vida. O tempo passa. Ela se casou com o seu ex-professor de física, tem filhos e na universidade continua a procurar por informações que provem o que está hipotetizando. Procurou por novos dados nos jornais daquele período que noticiavam padres denunciando judeus. Seu marido descobriu que o ex-professor de história dela apoiava o nazismo. A jovem agora acadêmica conseguiu mais oportunidades de entrevistas. As barreiras de acesso a documentos continuaram. O prefeito era um dos que mais dificultavam o trabalho. A família de Sônia começou a receber ameaças por telefone devido aos possíveis resultados dele que ameaçavam a manutenção da ideia de integridade de várias pessoas da cidade. Sônia processa a cidade para conseguir acesso aos documentos necessários à pesquisa, porém ela apenas consegue a liberação quando levou a imprensa televisiva ao local exigindo a liberação deles. Tempos depois, ela apresentou a conclusão da pesquisa na universidade da localidade. Houve gente da elite, membros atuais do governo local e religiosos envolvidos com crimes nazistas. Recebe um prêmio que se negou a aceitar, pois questionou a quem o dava sobre se tinha medo de que ela desenterrasse mais coisas obscuras. Estava desesperada naquele evento. Relembra de sua época de adolescente e busca, com o filho nos braços, um refúgio na memória: a árvore dos milagres, onde todos faziam pedidos e orações a Deus. Representava sua sabedoria.
Essa cinematografia demonstrou as principais características à
condução de uma pesquisa historiográfica. Primeiramente, ela teve um motivo que
foi o concurso de redação e depois uma perturbação, devido ao silêncio e as
barreiras, as quais ela se deparou. Durante o transcorrer da narrativa,
percebeu-se que Sônia utilizou métodos denominados convencionais e outros
modernos de exploração histórica. Os primeiros foram os documentos escritos
como os jornais da Segunda Guerra Mundial e os do Arquivo Municipal que
conseguiu com muita dificuldade, mas essa é uma característica de todo o
pesquisador. Marc Bloch diz em Introdução à História que reuni-los é uma das
tarefas mais difíceis que cabem ao historiador. Eles representam os testemunhos
deixados pela elite, pelo Estado e a igreja que cometeram crimes contra a
humanidade na cidade de Pfilzing. Os segundos fazem parte da chamada história
oral. São os depoimentos pessoais de quem vivenciou a época, porém a fim de
torná-los utilizáveis de maneira formal a personagem usou outro método moderno:
a gravação em áudio daquilo que lhe era narrado. Nessa forma de pesquisar, a
estudante sofreu um espancamento, pois a pessoa a ser entrevistada não desejava
que a conversa fosse gravada. Após realizar a coleta dos mais variados tipos de
informações, ela, sempre auxiliada pela família, começou a analisá-las em busca
de fatos que se contradizem e daqueles que tornaram sua hipótese em teoria. Após
isso, o quebra-cabeças foi montado.
Um dos aspectos mais intrigantes do filme foi o silêncio das
pessoas. Aparentemente, todas estavam conscientes de que falar sobre o período
da Segunda Guerra na cidade poderia colocar suas vidas e a de suas famílias em risco.
A cultura da Alemanha Ocidental pareceu rejeitar a importada dos Estados Unidos
que os jovens adoravam como a música e as gírias. Os pais de Sônia não
toleravam. Esses aspectos remetem à ideia do senso comum, o que pertence ao
cotidiano e não diz respeito à ciência.
Na questão de ética, Sônia foi muito além daquilo que seria
considerado normal para conduzir uma pesquisa. Ela se envolveu extremamente com
o trabalho acadêmico, colocando sua própria vida e a de sua família em risco.
No entanto como futura historiadora, conseguiu reconstituir graças ao
cruzamento de depoimentos orais com os escritos o passado recente da cidade e
dar a oportunidade de se fazer uma revisão sobre ele, pois o que as
instituições (Estado e igreja) consideravam a história oficial contradizia-se
com as descobertas. A jovem acadêmica demonstrou amor à pesquisa, um forte
interesse por descobrir, entender e publicar, mesmo conhecendo os riscos que
corria, pois havia algo maior em jogo: o fato que nenhuma verdade permanece
eterna, pois ela depende da interpretação e de quem controla a informação, pelo
menos antes de a internet existir.
O filme destacou três locais importantes à personagem. A árvore
dos milagres foi o mais memorável. Seu tronco com centenas de imagens fixadas e
velas ao redor, onde se deixava pedidos a Deus pelas adolescentes foi uma
representação simbólica construída pelo diretor para dizer que a personagem
procurava por refúgio na sabedoria. A escola administrada por membros da igreja
demonstrou a conhecida educação tradicional alemã com suas aulas de latim e sua
rigidez imutável quanto às regras, porém também mostrou a falta de ética dos
professores que facilitavam antecipando as respostas das avaliações a quem mais
contribuía financeiramente. Por último, o Arquivo Municipal é o lugar onde as
respostas a todas as questões se encontram. Nele, os documentos de todas as
épocas do lugar eram armazenados e liberados quando permitido aos
pesquisadores.
Uma Cidade Sem Passado é interessante para aprender um pouco sobre
o ofício de pesquisar. Foi um filme peculiar que nos remete de volta no tempo e
desperta curiosidade, embora a maioria dele parece monótono. Contudo, ele serve
também para revisar a História Contemporânea: o silêncio que os alemães fazem
sobre a Segunda Guerra. Depois de vê-lo, seria interessante assistir à Lista de
Shindler do Diretor Steven Spielberg, cuja filmografia foi feita totalmente em
preto e branco para transportar o telespectador em uma viagem ao passado.
Veja o filme no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=WNXjqc4aXds
Veja o filme no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=WNXjqc4aXds
Maravilhoso
ResponderExcluirDe facto foi algo interessante, pouca gente gosta da verdade! A menina Sonia foi curiosa e convincente de que iria encontrar o que pretendia demonstrar ao Mundo. Em todos os países aonde a guerra se fez sentir, passou-se estes moimentos de sequestro, morte e tratamento desumano. Os momentos de guerra são momentos de maltratos e sanguinolentos. Não sei porque é que o homem insiste em matar outros em detrimento do poder. No fim o bom morre e o mau morre também e natureza segue o seu curso. "tudo que nasce há de morrer um dia!
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